ATA DA SEPTUAGÉSIMA QUARTA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 01.08.1989.
Ao primeiro dia do mês de agosto do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Septuagésima Quarta Sessão Ordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Septuagésima Terceira Sessão Ordinária, a qual foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Airto Ferronato, 04 Pedidos de Providências; pelo Ver. Décio Schauren, 01 Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 16/89 (Processo 1974/89); pelo Ver. Dilamar Machado, 02 Pedidos de Providências; 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 110/89 (Processo 2046/89); e 01 Projeto de Resolução nº 19/89 (Proc. 2048/89); pelo Ver. Isaac Ainhorn, 09 Pedidos de Providências; pelo Ver. João Dib, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Leão de Medeiros, 01 Pedido de Providências; e 01 Indicação; pela Verª Letícia Arruda, 01 Pedido de Providências; e pelo Ver. Vieira da Cunha, 02 Pedidos de Informações. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 629; 617; 618; 619 e 631/89, do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Flávio Koutzii cumprimentou o Ver. Valdir Fraga pela maneira criteriosa e responsável com que assumiu a Prefeitura Municipal de Porto Alegre quando do impedimento do Sr. Prefeito. Denunciou, ainda o recebimento de material, assinado por um anônimo que se autodenomina “um brasileiro nacionalista a favor da justiça – doa a quem doer”, e que trata de divulgar idéias anti-semitas. Refutou tal material, leu excertos das matérias, e asseverou que o referido material visa denegrir uma comunidade étnica e inverter completamente os fatos históricos. O Ver. Luiz Braz, comentando o tema da literatura neo-nazista, afirmou ser defensor da liberdade de imprensa e de pensamento. Asseverou que, se as teorias não são verdadeiras, devem ser lidas e refutadas e não proibidas de divulgação. Salientou, ainda, não ser anti-semita, mas contrário à campanha travada contra a leitura e divulgação daquela literatura. O Ver. Isaac Ainhorn, comentando o recebimento, pelas lideranças desta Casa, de material anti-semita, congratulou-se com o pronunciamento feito pelo Ver. Flávio Koutzii; repudiou a propaganda que denominou de cunho anti-semita, e a maneira “abjeta” como vem sendo divulgada, através do anonimato. Contraditou o posicionamento do Ver. Luiz Braz, afirmando que tal material não trata unicamente de refutar fatos históricos, mas de uma organização anti-semita visando reintegrar as idéias nazistas. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Adroaldo Correa, comentando os pronunciamentos anteriores, afirmou que tais fatos marcam e evidenciam o preconceito e a discriminação presentes numa sociedade democrática; repudiou a divulgação de literatura neonazista e declarou-se anti-racista. Registrou, anda, o falecimento do jornalista, carnavalesco e líder popular, Carlos Alberto Barcelos – o Roxo. Destacou o trabalho realizado pelo jornalista e a luta pela divulgação da cultura negra. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Wilson Santos leu e comentou resposta recebida do Executivo Municipal, a Pedido de Informações de sua autoria, que questiona a regularização e modalidade de estacionamento no largo do Paço Municipal. Asseverou que tal comentário visa, de sua parte, colaborar com a lei e a ordem. O Ver. Clóvis Brum, comentando a questão dos transportes coletivos na cidade e, especialmente, os índices de reajustes das tarifas desse serviço até o momento, afirmou que a população deve exigir da Administração do Partido dos Trabalhadores o cumprimento de sua plataforma eleitoral, quando da campanha para a Prefeitura de Porto Alegre. Destacou que os percentuais de aumento concedidos até agora, pela Administração Popular, para a tarifa dos transportes coletivos, excede a inflação. O Ver. João Dib criticou a atuação do PT frente à Prefeitura Municipal, especialmente no que respeita ao transporte coletivo. Afirmou que a intervenção nos transportes coletivos foi feita de maneira precipitada e questionou a validade de tal ato. Denunciou que a Prefeitura está comercializando os vales-transporte, desde já, a quarenta e cinco centavos, enquanto a ATP continua a comercializá-los a trinta e cinco centavos, salientando que a população está sendo prejudicada. E assinalou, ainda, que recebeu denúncias no sentido que os ônibus da CARRIS não estão aceitando os vales-transporte da ATP, apenas os comercializados na PMPA. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Dilamar Machado, comentando a questão da habitação popular na cidade, denunciou a derrubada de uma moradia, de propriedade de um operário, situada no Jardim Vila Nova. Destacou sua estranheza quanto a isso, salientando e denominando o fato de “descabida e ilegal” ação pelo DEMHAB. Exigiu que a Bancada do PT tome providências no sentido de reconstruir a moradia derrubada. Denunciou, ainda, o que denominou de “perseguição política” a um funcionário do DEMHAB, cedido a este Legislativo Municipal, e que foi excluído do Regime Especial de Tempo Integral. O Ver. Flávio Koutzii, respondeu a questionamentos de diversos Vereadores quando de seus pronunciamentos, afirmando que no concernente aos reajustes das tarifas dos transportes coletivos, são inevitáveis e que a Administração Popular vem sempre mantendo um percentual de dez a vinte por cento abaixo do índice da inflação; e que, ao contrário do que afirmou o Ver. João Dib, a intervenção nos transportes coletivos tem resultados concretos e foi realizada de maneira oportuna, necessária e responsável. E, quanto a denúncia feita pelo Ver. Dilamar Machado, concedeu aparte ao Ver. Décio Schauren, que refutou as acusações feitas e anunciou que, em breve oportunidade, esclareceria, da tribuna, os fatos reais. O Ver. Nelson Castan, comentando o recebimento de bibliografia neo-nazista, por Lideranças da Casa, afirmou se tratar de um assunto extremamente polêmico e sensível, e ser imprescindível, quando tal se analisa, de extrema acuidade, ou se estará contribuindo e defendendo as injustiças e crimes praticados contra o povo de Israel. Salientou que tais literaturas não pretendem exclusivamente revisar os acontecimentos históricos, mas reintegrar as idéias nazistas. O Ver. Luiz Braz, discorrendo ainda sobre o assunto da literatura neonazista, declarou ser contra o racismo, ser brasileiro, defender e preocupar-se com as questões do povo brasileiro, a ser defensor da liberdade de expressão. Asseverou, ainda, que não faz apologia da literatura anti-semita, mas que não lhe parece justo o negar-se a liberdade de expressão. Asseverou, ainda, que não faz apologia da literatura anti-semita, mas que não lhe parece justo o negar-se a liberdade de expressão e pensamento numa sociedade democrática. O Ver. Flávio Koutzii, comentou o pronunciamento feito pelo Ver. Luiz Braz, registrou que o tema referente ao povo de Israel foi discutido, nesta Casa, apenas uma vez antes, e declarou-se decepcionado pelo teor do discurso desse Vereador. Relatou experiências vividas na sua infância e que marcaram claramente o preconceito anti-semita, salientou as características democratas do Ver. Luiz Braz e postulou que S. Exa. apesar de não ser racista, expressou tal posição em seu pronunciamento. Durante os trabalhos, o Sr. Presidente respondeu às seguintes Questões de Ordem: do Ver. Artur Zanella, a respeito da leitura de trecho da Bíblia no início desta Sessão; do Ver. Clóvis Brum, acerca das modificações decididas pela Mesa Diretora deste Legislativo e anunciadas pelo Ver. Valdir Fraga, acerca das inscrições para o período de Comunicações; e do Ver. Luiz Braz, acerca do teor do pronunciamento do Ver. Flávio Koutzii, em seu segundo período de Comunicações. E, durante os trabalhos, o Sr. Presidente anunciou e esclareceu novas orientações a serem seguidas na ordem de inscrições para o período de Comunicações, alertando que tais decisões foram decididas em reunião da Mesa diretora desta Casa. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente encerrou os trabalhos às dezesseis horas e nove minutos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ocorrer, hoje, às dezessete horas. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga, Isaac Ainhorn, Lauro Hagemann e Adroaldo Correa, e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann e Adroaldo Correa. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Valdir
Fraga): Passamos
às
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão
de Ordem):
Sr. Presidente, salvo melhor juízo, e eu sou um amante das decisões da Mesa,
até porque a integro, acho, porém, que
houve um pequeno equívoco. Imaginemos que o Ver. Clóvis Brum seja um dos
oradores, o Ver. Clóvis Brum está no Plenário e falta “quorum”, ficaria o
orador prejudicado no seu tempo?
O SR. PRESIDENTE: Ficaria.
O SR. CLÓVIS BRUM: Mas
quero chamar a atenção da Mesa que, evidentemente, é flagrantemente anormal
esta decisão, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Esta decisão foi tomada
pelos seguintes Vereadores: Valdir Fraga, Clóvis Brum, Lauro Hagemann, João
Dib, ...
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr.
Presidente, V. Exª comete uma grosseria comigo, dizendo que eu tomei esta
decisão.
O SR. PRESIDENTE: Não, não é grosseria, estou
apenas lendo os nomes dos Vereadores que assinaram o documento para esta
alteração.
O SR. CLÓVIS BRUM: Eu
tenho assinado tudo o que a Mesa pede, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Clóvis Brum, nós não
discutimos até aqui, eu respeito V. Exª, eu só quero colocar que foi assinado,
mas a Presidência da Casa acha que amanhã poderemos realizar uma reunião da
Mesa e Lideranças, novamente, e achar outro caminho neste sentido.
O SR. CLÓVIS BRUM: Ver.
Valdir Fraga, V. Exª continua sendo meu timoneiro nestas decisões.
O SR. PRESIDENTE: Muito obrigado, Vereador.
Liderança com o PT, Ver. Flávio Koutzii.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, gostaria de pedir sua atenção porque evidentemente
o motivo que me leva a usar imediatamente o tempo de Liderança, quando em geral
se espera um pouco o desdobramento dos debates para intervir, é em primeiro
lugar um registro preliminar: gostaria de cumprimentar o trabalho, o critério e
a altura com que o Presidente da Casa, Ver. Valdir Fraga, assumiu a Prefeitura
da Cidade e a forma responsável e respeitável com que entende que se faz esse
exercício. Não é uma cortesia, é um registro que nos parecia importante fazer
antes de mais nada. Mas o que me traz aqui é haver recebido hoje, praticamente
no fim da manhã, um material que vem de Porto Alegre, datado de 31 de julho,
remetente: “Um brasileiro nacionalista a favor da justiça - doa em quem doer” –
anônimo, mas brasileiro nacionalista. Diz ele - e dentro deste envelope,
inclusive eu chamaria a atenção do Ver. Isaac Ainhorn porque é um tema que lhe
vai interessar diretamente -, no material há recortes de jornais reagrupando
uma série de assuntos, claramente numa perspectiva anti-semita, que vai desde
um material que mostra que o Prêmio Nobel da Paz não foi atribuído ao grande
nacionalista negro Nelson Mandela, mas, sim, ao escritor judeu Eli Weisel, que
passou pelos campos de concentração da Alemanha nazista e, desde aí, tem uma
pregação democrática pelos direitos humanos e uma obra literária muito marcada
por esse momento da sua experiência. Há uma clássica interpretação fascistóide,
anti-semita. E tudo isso, na verdade, foi feito para agradar um suposto,
fantasioso e mágico lobby judeu, da imprensa que, evidentemente, teria
interesse que fosse esse Prêmio Nobel, e não Nelson Mandella, um homem
respeitado, certamente, por todos nós. Segue uma série de matérias, juntadas de
uma forma muito discutível, que vão desde crianças adotadas por Israel, até o
fato de que Roberto Marinho entrega a Austragésilo de Athayde uma medalha Ben
Gurion, passando, finalmente, por matérias relacionadas com o conflito entre
palestinos e o Estado de Israel, sobre o que é conhecida a posição do Partido
dos Trabalhadores. Mas, entre outras pérolas, que não são a matéria de jornal,
mas agregadas na composição datilograficamente pelo autor, há coisas como a
figura de um suposto judeu dizendo: “soltei duas bombinhas atômicas no Japão,
liquidei 380 mil japoneses queimados vivos”. Outra pérola: “O judaísmo semeou a
semente do terror no mundo inteiro, monopolizando a economia de todos os
setores da sociedade participativa, deixando pouco ou quase nada para os outros
segmentos industriais, comércio e agricultura, provocando, portanto, a fome, a
miséria e a desgraça da humanidade.” Para quem conhece um pouco a leitura e a
linguagem hitleriana, que era uma tentativa de, explicando a terrível crise que
vivia a Alemanha hitlerista, explicar que as raízes da crise eram determinadas
por um motivo, pelos interesses dos judeus-alemães, o eco é exatamente igual, a
linguagem é exatamente igual, o raciocínio, a articulação dos fatos exatamente
igual. E me parece muito sugestivo que esse material venha a nós, e creio que
outros Vereadores o receberão ou já os têm em suas mãos, mesas. Vou terminar,
Sr. Presidente, peço um minuto de tolerância dado o caráter da denúncia, porque
ela não me foi feita em caráter pessoal, e creio que o autor não sabe que sou
de origem judia porque inclusive recomenda que mimeografe e distribua o
material. E isso vem bem no momento em que se desenvolve nessa Cidade uma
iniciativa múltipla de setores negros, setores da comunidade judaica,
Vereadores dessa Casa no sentido de constituir um movimento anti-racista, que
evidentemente tem um sentido amplo e universal, que teve uma acolhida
importante, significativamente no jornal Zero Hora, não da mesma forma no
jornal Correio do Povo, na semana anterior, mereceu inclusive uma coluna do
Luiz Fernando Veríssimo e do Sérgio da Costa Franco. Parece-me que há um
intento de resposta que esta campanha por direitos democráticos elementares
seja e nos apareça agora, como uma resposta.
E o mais surpreendente, tenho aqui um livro
que foi emprestado por um colega Vereador que havia relutado em ler, “O Brasil,
sempre”, que é uma resposta, creio que do ex-Sargento Marco Pólo Giordani,
querendo contestar, na versão brasileira, todos os atropelos, torturas e
desaparecidos durante os anos da ditadura. Esse homem que parece que foi
constituído advogado de defesa do Sr. Ellwanger Castan, que é aquele que vem
escrevendo os livros que tratam da revisão história e tentam passar a idéia de
que não houve nem o Holocausto, nem a morte de seis milhões de judeus. Amanhã
seguirei sobre esse tema, fica a denúncia e o registro. Obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Tempo
de Liderança, com o Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu acompanhei pelos jornais as discussões havidas com relação à
propaganda dos livros chamados anti-semíticos e eu havia lido dois desses
livros, sendo um deles “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, o outro “Brasil
Colônia de Banqueiros”, que é um livro do Gustavo Barroso. Estou concluindo também
a leitura do livro “Holocausto Judeu-Alemão” e eu iniciei também a leitura de
um outro livro desta série de livros, pelo menos chamado anti-semíticos, que é
“Acabou o Gás”. Este livro fala sobre o Relatório Leuster, que é um relatório
sobre um técnico dos Estados Unidos, um engenheiro especialista em construção
de prisões nos Estados Unidos, que faz uma série de pesquisas, e nessas
pesquisas revela que aquelas dependências que foram utilizadas como câmaras de
gás na Polônia e na Alemanha, na verdade, elas não poderiam ser utilizadas para
isso, de acordo com as pesquisas feitas por este técnico especialista em
construções de prisões. Também ele diz o seguinte – aliás comprovado por outros
técnico-especialistas – que seria impossível matar com cianureto, que Ziglon B,
produto utilizado para matar judeus, de acordo com os historiadores, seria
impossível matar tantas pessoas, já que até hoje se tem dificuldade de matar
uma só com cianureto.
Eu estou falando nesses dados – e até pediria a atenção do Ver. Flávio
Koutzii, que veio falar sobre esta matéria –, estou levantando esses dados não
porque seja anti-semita, e não li os livros por este motivo, pois até tenho
grandes amigos entre a colônia judaica, agora eu gostaria de dizer que sou
contrário a campanha que está em andamento para que esses livros não sejam
publicados, porque, por exemplo, o livro “Holocausto Judeu-Alemão” é um livro
que traz documentos que querem comprovar o contrário daquilo que os
historiadores têm contado até aqui, e eu acho que é um direito de todas as
pessoas lerem, de tomarem conhecimento da opinião destas pessoas, inclusive,
por exemplo, Chamberlain, que era Primeiro Ministro francês daquela época,
sobre o Primeiro Ministro inglês, que ele disse que é um bêbado. Acho que estes
documentos que estão sendo divulgados através destes livros, eles têm que ser
contestados, o que temos que ter, realmente, é o direito de nós, povo do
Brasil, desta juventude, que não participamos, que apenas sabemos da história
através de leituras, temos que ter o direito de saber dados reais. Acho o
seguinte: não sou inimigo do povo judeu, como não sou inimigo de qualquer outro
povo, tanto é que o povo brasileiro é uma miscigenação de raças, aqui temos
todos as raças, custo a acreditar e não quero acreditar, e não vou acreditar
que o judaísmo seja um Estado dentro do meu Estado. Acho que não, acho que não
pode acontecer assim. E a afirmação que vejo, por exemplo, desses livros, é que
o judaísmo é um Estado dentro de cada Estado, que eles se negam a formar um Estado
só judeu, exatamente para que eles possam ser um Estado dentro de cada Estado e
dominar, assim, toda a economia mundial.
Mas acho que o povo, as pessoas, devem ter o direito de ler, de
conhecer todos os fatos. Acho que esses fatos que estão sendo divulgados não
têm que ser proibidos. Como por exemplo, Ver. Adroaldo, se proibir o erotismo,
se proibir revistas que achamos que não devam ser divulgadas pela nossa
concepção, pelo nosso credo religioso, acho que todas as informações têm que
ser passadas, e nós é que temos que adquirir um pouco mais de cultura e de
consciência para podermos ler estas publicações e tirarmos delas ilações que
nós queremos. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Isaac
Ainhorn, em tempo de Liderança pelo PDT.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, inicialmente, congratulo-me com o Ver. Flávio Koutzii que tomou a
iniciativa de vir a essa tribuna em tempo de Liderança manifestar-se a cerca de
alguns documentos que recebeu. Eu não recebi, Ver. Flávio Koutzii, mas o Líder
da minha Bancada, Ver. Vieira da Cunha, hoje pela manhã, me passou alguns
documentos, alguns recortes de jornais, dirigidos ao Líder da Bancada do PDT,
que recebeu dirigido a ele não nominalmente, apenas Líder da Bancada do PDT,
alguns recortes de jornais de caráter e natureza tipicamente anti-semita. Não
são rigorosamente os mesmos que V. Exª, Ver. Flávio Koutzii, recebeu mas tem a
mesma natureza que já têm quase cerca de uma centena de anos e que são no mesmo
diapasão, na mesma linha preconizada nos “Protocolos dos Sábios de Sião”, da
existência de um complô judaico internacional, através do capitalismo
internacional e do comunismo internacional. Infelizmente há pessoas que dão
vazão a este tipo de ação política e manifestação política e que foi, também,
muito usada por Adolf Hitler, na década de trinta. Pois, os que eu recebi se
referem à publicação do livro “Holocausto Judeu-Alemão - nos Bastidores da
Mentira do Século”. Depois, referências ao Estado Israel, ao capitalismo judeu,
americano e russo, jornalistas e judeus espancados em Moscou, e toda a sorte de
propaganda de cunho nitidamente anti-semita, mas que tem uma característica,
elas vieram sob uma forma mais abjeta e deplorável, que é sob a forma anônima.
Mais uma vez estas pessoas se escondem no anonimato para distribuir e propagar
estas idéias que não têm embasamento em nenhuma realidade e em nenhum fato
histórico. E, hoje, quando o Movimento de Justiça e Direitos Humanos, há cerca
de uma semana atrás, lançou um movimento, tornou público o movimento contrário
a toda esta ordem de manifestações racistas, nós, evidentemente, não poderíamos
ficar alheios a estes fatos e deixarmos de nos manifestar. Não há dúvida, e
isto eu digo especificamente ao nobre Ver. Luiz Braz, de que, se em relação a
um fato específico, há a manifestação de um pensamento, de uma posição em
relação a um livro, aquela pessoa tem todo o direito de se manifestar. Mas o
que se está constatando é a organização de um movimento muito bem urdido, que
tem como ponto básico de sua atuação, juntando toda uma série de publicações,
um nítido caráter anti-semita. Vejam V. Exªs
– e aí um
aspecto que eu gostaria de trazer à reflexão deste Plenário – o quanto é
difícil a sustentação de certos pontos históricos. Vejam que pouco mais de 40
anos se passaram da ocorrência dos tristes fatos da 2ª Guerra Mundial, em que
um cidadão levou aos extremos da loucura uma nação, em que criou campos de
extermínio, campos de concentração, em que mais de vinte milhões de pessoas
foram assassinadas, dentre estas seis milhões de judeus. E, quando se passaram
pouco mais de 40 anos, quando sobreviventes do holocausto ainda estão vivos,
surgem versões colocando em questão a própria existência do holocausto.
Por esta razão, nós manifestamos a nossa preocupação em relação àquilo
que entendemos como a articulação, a rearticulação de um movimento de nítido
caráter revanchista, que pretende prosperar, novamente, estas idéias de caráter
neonazista. E vemos estas articulações nestas manifestações e na publicação por
um cidadão de um conjunto sistemático de obras de cunho anti-judaico, com muita
preocupação, porque os fatos históricos ainda estão muito presentes na nossa
memória, inclusive a luta do nosso povo a luta do povo brasileiro, que derramou
seu sangue nos campos de batalha da Itália, na luta contra o nazi-fascismo.
Quando tudo isso ainda está muito fresco, muito presente na memória de todos
nós – os trágicos fatos que se desenrolaram na 2ª Grande Guerra, nós,
sinceramente, vemos com apreensão este tipo de movimento que começa a ser
urdido, desencadeado, infelizmente no nosso Rio Grande do Sul.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Wilton Araújo, em
transposição de tempo com o Ver. José Alvarenga, que cede seu tempo ao Ver.
Adroaldo Corrêa.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, a nota apontada pelo Ver. Líder do PT e, em conseqüência, a
intervenção do tempo de Liderança do PDT, Ver. Isaac Ainhorn, é uma nota que
coloca em evidência o racismo e a luta dos democratas de todos os quartéis
contra o racismo, que é um dos sentimentos mais hediondos da humanidade, porque
discrimina pessoa de pessoa. É um sentimento nosso, do PT, de todos os
integrantes da Bancada, e não só apenas com relação a pessoas de origem
judaica, mas do conjunto, daqueles que lutam pela democracia e pela preservação
dos direitos humanos.
O Sr. Luiz Braz: V. Exª permite?
(Assentimento do orador.) Eu pergunto a V. Exª, já que o Ver. Ainhorn se
referiu ao livro, se V. Exª leu o livro?
O SR. ADROALDO CORRÊA: Não li, só sou
anti-racista.
O Sr. Luiz Braz: Eu também sou.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Não estou criticando o
livro, até porque não li, e confio na leitura de quem o fez.
O Sr. Luiz Braz: Porque é difícil criticar
alguma coisa sem conhecer.
O SR. ADROALDO CORRÊA: É que eu não estou
discutindo os livros; eu estou discutindo o racismo, e não gostaria de
prosseguir na discussão porque só fiz uma observação inicial, não estou
discutindo os livros, e sim o racismo. Pediria à Mesa que me devolvesse a
palavra, porque esse não é o objeto da minha intervenção. Gostaria de fazer um
registro, como uma linha de sucessão entre as questões raciais e populares, com
pesar, o registro do falecimento do jornalista, companheiro desta Cidade, Carlos
Alberto Barcelos, o Roxo, que está sendo velado no Cemitério João XXIII e que,
como cidadão livre, como um negro livre, soube elevar nesta Cidade o conjunto
da arte do seu povo a um lugar que seguramente todo o cidadão deve ter, que é o
de respeito na sua comunidade. Um cidadão que tem uma escola, que faz um
comentário sobre uma atividade específica da arte da comunidade negra na Cidade
e que é respeitado em todas as escolas. É um jovem avô que morreu hoje, morreu
de câncer disseminado a partir da localização na coluna cervical, e que merece,
da Cidade, uma homenagem nesta Câmara também, assim como tantos outros
cidadãos.
O SR. PRESIDENTE: Vereador, eu gostaria que
V. Exª. falasse em nome da Mesa, e acredito que possa falar e deve falar em
nome da Casa.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Eu acreditava que estava
falando, Presidente, em nome de todos os Vereadores e talvez a emoção me
impedisse de dizer isto antes, agradecendo, também, o tempo que me foi cedido,
já que não estava inscrito hoje, pelo Ver. José Alvarenga da minha Bancada, e
pela transposição que me foi concedida pelo Ver. Wilton Araújo. Gostaria de ter
condições, a calma e a objetividade possíveis para relacionar a tarefa
histórica deste que foi um cidadão de Porto Alegre, que contribuiu para o
resgate de manifestações culturais, que se a gente observar o desenvolvimento
da Cidade, têm sido deixadas à margem. Os espaços públicos de massa, coletivos,
têm sido expulsos cada vez mais para longe, afastados do convívio dos demais
cidadão, não porque os demais cidadãos não apreciem este tipo de atividade, mas
porque a Cidade se desenvolveu de uma forma que não compreendeu, na sua lógica
– e esta lógica a gente acha e critica que é a lógica do lucro, da acumulação –
as relações humana mais comezinhas da convivência nos espaços públicos do
próprio povo, não apenas o espaço público de propriedade de uma prefeitura
desta ou daquela Administração, mas no espaço do povo mesmo.. E este cidadão, o
Carlos Alberto Barcelos, o Roxo, no nosso entendimento, trabalhou intensamente
a sua vida, desde menino, dentro desta visão de que o espaço popular é o espaço
o mais amplo possível, é o da organização daqueles que têm necessidades comuns,
de elevar a sua condição de negro à condição de igual que é, mas que é
discriminado. E que lutou, com os seus pares e com os demais, pela emancipação
desta que é uma atividade, talvez hoje deslocada, mas é uma atividade principal
em determinados momentos, em determinadas comunidades, que é o carnaval da
nossa Cidade, a cultura da música popular brasileira, a sua divulgação e a sua
expressão no rádio, no jornal e na própria televisão. No jornal Zero Hora
escrevia na “Ala do Roxo”, junto com a rádio Princesa organizava o “Samba Sul”
e publicávamos juntos, repórteres que fomos várias vezes no mesmo período,
dentro ou fora do carnaval, o trabalho feito, não apenas em janeiro, fevereiro
e março, mas durante o ano todo com esta coletividade que se organiza, se
emancipa, se constrói e se solidariza nesta festa popular.
Porto Alegre perdeu este cidadão com estas características, um cidadão
humilde, simples, que amava o conjunto de seus amigos e também os seus
desconhecidos envolvidos com esta histórica manifestação cultural da nossa
Cidade, e que acreditamos deve merecer do conjunto da população o carinho, que
já percebemos no início do seu velório, hoje, a uma hora da tarde junto à
capela e aos familiares, o carinho que já teve em vida, de seus amigos, de
todos os seus aproximados, de todos os que com eles se relacionavam na rádio
Princesa, na coluna do jornal Zero Hora, nas quadras das escolas de samba, nos
pagodes de fins de semana, e se entusiasmava com o seu otimismo e a sua
alegria, aliás, manifestados até o último momento, até expirar no leito de
morte, e que fazíamos acreditar na sua possível recuperação. A recuperação não
foi possível, Roxo faleceu nesta madrugada. Acho que ficarei devendo à memória
à intensa vida do Roxo, mas era a homenagem que queríamos prestar. Muito
obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança, com o PL. V. Exª
tem cinco minutos.
O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, não querendo ser o mais realista, mas, no intuito de
permanentemente colaborar com a lei e com a ordem, quero comentar o PI que foi
feito ao Executivo Municipal, cuja resposta tem o seguinte teor: (Lê.) “Em
atenção ao PI nº 204/89, do Ver. Wilson Santos, informo que existem placas
junto ao prédio do Paço Municipal indicando área especial para estacionamento
de veículos oficiais. A referida sinalização é muito antiga e a SMT realiza regularmente
a manutenção das placas. Cabe ressaltar que, anteriormente a esta
administração, as placas traziam escrito “área de segurança”; hoje, dizem “área
especial”, com informações complementares. Além disso, o local destinado ao
estacionamento de uma viatura do 9º BPM, na Rua 7 de setembro, atende à
solicitação do próprio Comando daquela unidade, uma vez que se configura como
um ponto de observação e faz parte de um projeto maior daquela corporação. Com
relação às áreas de estacionamentos especiais para que as mesmas sejam
destinadas exclusivamente a veículos que prestam serviço à coletividade, táxis,
entende-se que os veículos oficiais da Prefeitura também prestam serviço à
coletividade. Ora, há um tremendo equívoco. E aqui vai no intuito de auxiliar,
de que essa Cidade seja administrada da melhor forma, e quanto mais possível
for, se administre aproximando o máximo possível e até diria, bem dentro da
moldura legal. Nós vamos ver o que é sinalização, e eu quero lembrar que vou
falar na Lei nº 5.108, de 1966, que é o Código Nacional de Trânsito. Além de
existir a lei, existe a conseqüente regulamentação da lei. E a regulamentação
da lei é feita pelo Decreto nº 62.127/68 que regulamenta, conseqüentemente, o
Código Nacional de Trânsito. São recursos físicos de comunicação,
indispensáveis à adequada utilização das vias públicas pelos condutores de
veículos e pedestres. Isso é sinalização, isso é a linguagem do trânsito. Para
atingir seus objetivos, dentre outros requisitos que devem ser satisfeitos para
infundir respeito, a sinalização deve ser implantada corretamente como
determina o Código Nacional de Trânsito e a sua regulamentação. A sinalização
se faz por meio de placas, marcas, luzes, gestos, sons, marcos e barreiras,
segundo indica o art. 64 do Código Nacional de Trânsito. Além de obrigatória, a
sinalização exclusiva, pois veda a utilização de qualquer outra, conforme art.
63 do referido Código. Mesmo a sinalização anterior e a atual são invenções da
atual Administração, e não podemos conviver com essa colisão frontal com a lei.
Tenho fotos, aqui, que me preocupam muito mais, porque, além de dizer que a
área é especial, diz que é estacionamento paralelo. Na própria fotografia está
o grande contra-senso: estacionamento paralelo - e dá para ver nesta foto que
não tem nada de paralelo. Agora, foi trocado para oblíquo. Então, preocupo-me
duplamente: se foi estabelecido, agora, que o estacionamento é oblíquo,
significa que o estacionamento é permitido e, se é permitido, vou invocar o
art. 5º da Constituição Federal, que diz que todos são iguais perante a lei.
Encerro, Sr. Presidente, mas, posteriormente, teria que voltar a esse
assunto porque ele é sério e pretendo colaborar para que as coisas sejam
colocadas nos seus devidos lugares. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança, com o PMDB, Ver.
Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, a Cidade toda tomou conhecimento de uma preocupação que tomou conta
da campanha eleitoral do Partido dos Trabalhadores, cujo cavalo de batalha
maior foi o transporte coletivo de Porto Alegre.
Pois muito bem, a população
sentiu, ouviu e, até acreditou nas propostas do PT e, sem dúvida alguma, o
candidato Olívio Dutra foi consagrado nas urnas com uma expressiva e
respeitável votação que o fez o primeiro mandatário desta Cidade. Mas me
parece, Sr. Presidente, que a população tem que começar a cobrar e nós vamos
iniciar esta cobrança; iniciar não, dar continuidade a esta cobrança.
A semana passada já denunciávamos que os
aumentos do transporte coletivo em Porto Alegre estavam além a inflação, e
realmente foi confirmado este dado. A Prefeitura de Porto Alegre, através da
Administração Olívio Dutra, está dando um aumento no transporte coletivo além,
até mesmo, da inflação.
Sr. Presidente, a população tem que saber
desta verdade. Eu gostaria que a Liderança do PT, que o Prefeito Olívio Dutra,
que Vice-Prefeito Tarso Genro, que representam o Partido dos Trabalhadores em
Porto Alegre, com as suas lideranças maiores justifiquem à opinião pública, a
nós e a esta Casa, por que esses percentuais de aumento. Está havendo alguma
preocupação da Administração do PT com o insucesso empresarial do setor? Houve
contratações em demasia de operários, motoristas, funcionários, nas empresas
sob intervenção? Os percentuais de aumento adotados pela Administração do
Prefeito para os funcionários da Prefeitura foram os mesmos percentuais de
aumento que a Administração Olívio Dutra, através das intervenções das
empresas, deu aos empregados dessas empresas?
Ao que sei, Sr. Presidente, pelo menos uma
coisa eu pensei naquelas idas às empresas sob intervenção, havia um homem que
ganhava na VTC 91 cruzados em fevereiro, por ocasião das intervenções; no mês
seguinte, este mesmo homem foi guindado a uma outra função, e seu salário
passou a mais de 1.000 mil cruzados. Merecida promoção, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, merecida promoção. O homem ganhava, quando se fez a intervenção, 91
cruzados; no mês seguinte, este mesmo homem, sob a alegação de que foi
promovido, passou a receber mais de 1.000 cruzados. O que está acontecendo, Sr.
Presidente e Srs. Vereadores? Quando nós todos esperávamos que a Administração
do Partido dos Trabalhadores fosse diminuir o custo de vida dos trabalhadores
da Capital, ela impõe um castigo irremediável. O Partido dos Trabalhadores está
impondo à classe trabalhadora de Porto Alegre um duro castigo. Eu não sou
eleitor do Sindicato dos Municipários. Se eu fosse, votaria na chapa de
oposição, evidentemente, à Administração. Pois bem, lá, os trabalhadores da
Prefeitura já derrubaram a Liderança do PT, no Sindicato. Mas o que está
acontecendo aqui, onde o PT tem Administração e se justifica que o Sindicato
continuasse nas mãos da militância do PT, é que perderam o Sindicato dos
empregados da Prefeitura, dos trabalhadores e agora, Sr. Presidente, para
concluir, estão penalizando o povo de Porto Alegre, com uma tarifa mais cara
que a inflação, mais alta que a inflação. Esta resposta o PT deve à opinião
pública. A partir de domingo, os trabalhadores vão pagar uma passagem mais cara
em Porto Alegre, e a soma desses aumentos do PT estão além da própria inflação
do Sr. José Sarney. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com
a palavra, o Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, não sou, por certo, o único Vereador, aqui desta tribuna, a dizer
que a intervenção no transporte coletivo foi feita com incompetência, foi feita
de uma forma precipitada, não colheu nenhum fruto, porque não houve renovação
de frota e a tarifa não se faz por decreto. Não há críticas ao reajuste
tarifário, não. A tarifa foi sendo reajustada à medida da necessidade, mesmo
porque, há cerca de duas semanas, o Prefeito, na Rádio Guaíba, declarava que –
e declarava ao Ver. Luiz Braz – a tarifa não cobria a operação do sistema de
transporte coletivo. Mas se tenho falado na incompetência administrativa, não
imaginava, também, que houvesse a incompetência política. Parece que estão
brincando as crianças. As crianças querem mostrar que são mais fortes e que têm
mais valor e, até para mostrar que são mais fortes e que têm mais valor, fazem
qualquer negócio. Então, a Administração Municipal, de uma forma incompetente,
de uma forma descuidada, de uma forma pouco inteligente, anuncia a venda das
fichinhas, vou usar fichinhas porque foi o PT que criou o termo, das fichinhas
das empresas intervindas ali na Rua André da Rocha, onde era a CEPAL. Até aí
nada de mais. Era um pequeno erro. Mas, politicamente, pouco inteligente. Já
está vendendo as fichinhas, para o PT deve ser fichas, por 45 centavos, quando
os vilões, os bandidos da ATP estão vendendo por 35 centavos e venderão até
sexta-feira, ao término do expediente. Os jornais, hoje, noticiam que ontem um
milhão e duzentas mil fichinhas, lá na ATP é fichinha - aqui, na Administração
é ficha, uma enorme ficha -, um milhão e duzentas mil foram vendidas ontem e,
por certo, até sexta-feira, ao término do expediente, talvez vão faltar fichas.
Porque o povo que é inteligente, que procura se precaver, se tiver recursos, pode
não ter, vai comprar fichinhas por 35 centavos; porque as de 45 centavos, por
que comprá-las?
Mas o outro prejuízo que tem a
população: hoje, o sistema é único; o morador da Protásio Alves que espera o
ônibus, vem o da CARRIS, mas ele tem a ficha da ATP, não tem a ficha da
Administração Municipal, então, não vai.
Mais um prejuízo para a Cidade
que teve um sistema de transporte deteriorado, que piorou na sua qualidade, que
não renovou a frota, que reajustou quatro vezes a tarifa em sete meses, e que
não trouxe nenhum benefício ao público que é transportado. Agora, mais um
prejuízo: ou ele compra fichinha e ficha, ou ele vai ter que se definir por
este ou por aquele ônibus, coisa que antes ele tinha liberdade, tanto fazia ser
da CARRIS, como da Viação Alto Petrópolis ou da Empresa Gasômetro ou da
Sentinela - se fosse na Osvaldo Aranha ele tinha quatro opções. De repente lhe
é diminuída a CARRIS que, segundo os entendidos – doutos lá da Administração –
prestam excelente transporte. Então, este excelente transporte deve ter uma
ficha mesmo especial, hoje mais cara que as demais.
Posso até estar equivocado,
pois vejo a atenção do Ver. Flávio Koutzii na afirmação que faço. Mas li os
jornais de hoje e, como a Administração é muito zelosa nas notícias e produz grande
massa de notícias, eu sei que é verdade. E a população de qualquer forma está
prejudicada, pois terá que optar. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Adroaldo
Corrêa): Com a palavra, o Ver. Dilamar Machado, pelo tempo
que lhe cede o Ver. Vieira da Cunha.
O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, nas últimas horas, o Presidente do Sindicato da Construção Civil do
Estado, através da imprensa, vem declarando de forma muito clara a
impossibilidade que o Estado do Rio Grande do Sul terá, nos próximos doze
meses, na construção de habitações populares. E isto com base no grande saque
que houve nesta Nação, nos últimos anos, com relação aos recursos do Sistema
Financeiro da Habitação, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e os depósitos
de cadernetas de poupança.
A gente sabe que Porto Alegre é uma cidade dramaticamente deficitária
em termos de habitação popular. Tanto que, hoje, quem passar pela Sertório vai
encontrar ali, depois da Farrapos, uma verdadeira vila popular na calçada da
Sertório, mais de duzentas malocas implantadas ali. E basta passar no Viaduto
da Conceição, no Viaduto da Silva Só, ou em qualquer vão de viaduto, que vão-se
encontrar centenas de famílias morando, hoje, embaixo dos viadutos, de forma desumana,
dura e cruel. Até aí, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, dá para se admitir a
inoperância da Administração do Município pela falta de recursos. Agora, uma
coisa é não ter recursos para construir. Uma coisa é, por questão ideológica,
filosófica ou moral - ou sei lá qual a questão -, não aceitar os recursos da
SEAC para dar continuidade ao mutirão habitacional da Secretaria Especial de
Ação Comunitária que poderia, pelo menos, na Chácara da Fumaça construir mais
quatrocentas ou seiscentas unidades habitacionais e outras tantas na Restinga
para resolver o problema desta gente que mora - ou que pensa morar - no meio da
rua.
Agora, outra coisa é o Departamento Municipal de Habitação, sob a
gestão do Partido dos Trabalhadores, enviar grupos de operários do DEMHAB
demolir uma moradia de um trabalhador de forma brutal e, diria mais, de forma
bandida. Este fato ocorreu no dia 27, no Jardim Vila Nova, que é um bairro de
propriedade do DEMHAB, que vendeu os terrenos para aquelas pessoas que ali
residem. Ocorreu, ainda na gestão do Prefeito Alceu Collares, a ocupação de um
terreno lá no Jardim Vila Nova por pessoas do próprio Jardim Vila Nova que não
tinham onde morar. E mais, ocorreu, posteriormente, a ocupação de dois destes
terrenos pelos moradores de um conjunto habitacional, que não é do DEMHAB, que
é construído pelo Inocoop, e que utilizam dois terrenos destes para fazer
garagem para seus automóveis. Pois, no dia 27 de julho, atendendo determinação
da Srª Diretora do DEMHAB, Drª. Liris Marques, alguns operários do Departamento
foram ao Jardim Vila Nova e simplesmente botaram abaixo, a picareta, a casa do
Sr. João Alberi Garcia, em que ele efetivamente residia. É um operário que
estava trabalhando. Foi às três horas da tarde. Literalmente, demoliram a casa,
sem qualquer autorização judicial. Faço esta cobrança à Bancada do Partido dos
Trabalhadores, para que fatos iguais não se repitam, e mais, que a
administração do Município de Porto Alegre, em nome do bom senso e inclusive
das relações humanas entre quem administra e quem é administrado, mande
reconstruir a casa do Sr. João Alberi Garcia. Isto é o mínimo que a
Administração do PT tem que fazer: mandar reconstruir a casa que custou,
provavelmente, o suor, o sangue, a vida deste trabalhador.
Tenho, aqui em mãos, um Ofício encaminhado pela Associação dos
Moradores do Jardim Vila Nova, assinado pelo Sr. Presidente, Sr. Celso, que
inclusive esta presente, aqui, no nosso Plenário, junto com o Kleber, que é
outro dirigente da Associação, que diz: (Lê o Ofício.)
“Associação Comunitária Jardim Vila Nova
Sede: Rua Fernando Pessoa, 300
– Porto Alegre
Porto Alegre, 31 de julho de 1989.
Sr. Presidente:
Para conhecimento de V. Exª, bem como de todos os Excelentíssimos Srs. Vereadores dessa Casa, comunico a ilegal, descabida e violenta operação levada a efeito pela SMOV e DEMHAB, órgão da Administração Popular de Porto Alegre, dia 27 do corrente, ocasião em que foi demolida a casa sita na esquina das Ruas Prof. Rubens Guelli e Deroci Giácomo da Silva, no Loteamento Popular Jardim Vila Nova, implantado pelo DEMHAB, residência de João Alberi Garcia, a pretexto de ter sido erguida sobre recuo viário.
Em que pese o projetado alargamento não estar, sequer, em vias de execução, o que justificaria a retirada da casa, bem como o terreno em questão situar-se no fim da rua, não pretende esta entidade discutir o mérito da referida operação, mas protesta pela forma brutal e intempestiva com que se houve a Prefeitura Municipal, pela falta de diálogo sobre o assunto, previamente, que certamente levaria a algum acordo, com solução menos traumática, com alternativas que poderiam ser apreciadas e levadas em conta.
Finalmente, informo que a desastrada operação causou consternação na comunidade, conforme manifestação em abaixo-assinado que segue anexo.
Na certeza do melhor encaminhamento da questão, subscrevo-me.
Atenciosamente
(a) Celso Luiz Mengue Vieira, Presidente.”
Indiscutivelmente, eu já comunico ao Ver.
Elói Guimarães que o Sr. João Alberi Garcia, bem como a Associação de
Moradores, vai procurar V. Exª na Comissão de Justiça da Casa, para que se abra
o competente processo. Não se pode abusar da autoridade desta forma, jogar ao
relento pessoas pobres, desamparadas, com um ato arbitrário e bandido; e isto
ficar sem conseqüências. Tem que haver conseqüência.
A segunda conseqüência: o Sr. João Alberi
Garcia foi instruído por mim a procurar o Delegado ou o Plantão da 13ª
Delegacia e registrar, ali, a ocorrência policial; e a procurar a Comissão dos
Direitos Humanos, procurar quem ele achar de direito, a Coordenadora das
Promotorias Criminais, porque, se a moda pega a D. Liris vai começar a mandar
seus operários a saírem destruindo casas por aí. Inclusive, um deles me ligou,
arrependido: “- Mas estou obedecendo ordens”. Não se pode obedecer ordem
estúpida como esta. Fica o alerta à Administração Popular.
Não vejo a Bancada do PT, evaporou-se, de
repente, mas, em todo o caso, os Anais da Casa devem registrar. Ah! Está aqui o
Ver. Schauren, mentira o quê? O que é mentira? Mentira sua! Como é que vai
dizer que é mentira, se demoliram a casa. Vai levantar a casa do trabalhador, é
mentira da Associação dos Moradores que está presente? É mentira dos moradores
do Jardim Vila Nova? A casa foi ou não demolida? Saiu a fotografia no jornal, é
mentira? Dê-me a devida resposta, eu nunca tive a devida resposta do PT; só vem
com a conversa de que é mentira. Reconstruam a casa do operário. É assim que se
age com os trabalhadores? Um partido que se diz dos trabalhadores? Isso é uma
estupidez, é um banditismo. Isso tem que ter conseqüências, Ver. Décio. E não
repita mais isso que é mentira, porque eu não viria para esta tribuna mentir,
defender o quê? Defender o trabalhador é estupidez? Estou defendendo um
trabalhador modesto que teve sua casa demolida, e tem que ser reconstruída pelo
PT. É banditismo defender a casa do trabalhador? Por que não mandaram retirar
as malocas da Sertório? Por que não tiraram os pobres que estão morrendo
embaixo dos viadutos? Não fazem nada, absolutamente nada; não têm um projeto
habitacional. E ainda vão demolir a casa dos pobres. Isso é um ato arbitrário,
bandido e que tem que ter conseqüências. O Prefeito Olívio Dutra, enquanto
anuncia o seu plano semestral de obras - e essa deve ser uma das obras, demolir
a casa do trabalhador - vetou, Sr. Presidente Adroaldo Corrêa, os 25% que esta
Casa determinou, com sua ampla maioria, pagar ao funcionalismo. Simplesmente
vetou. Não quer pagar em agosto um direito dos trabalhadores. Aumentou a passagem
do ônibus, e quero dizer à Bancada do PT, na Presidência da Comissão Externa
desta Casa, que examina as tais sabotagens e as demissões arbitrárias,
bandidas, violentas, politiqueiras, ocorridas nas empresas sob intervenção, que
darei 24 horas, não mais do que isso, para a Administração do PT e para a
Comissão da qual o Ver. Décio participa, para que me mandem os documentos
solicitados há um mês, que comprovem uma das aludidas e alegadas sabotagens das
empresas sob intervenção. Em 24 horas, se não receber os documentos, fiz tudo o
que o PT pediu, fui ao Prefeito, fui às empresas, e não recebi um documento
sequer dos interventores, sobre as tais sabotagens. Vinte e quatro horas, e
entrego o Processo ao Relator para fazer o relatório. Se não vierem estes documentos
nós vamos concluir, indiscutivelmente, pela inexistência de sabotagem e pela
existência de uma brutal, politiqueira perseguição à classe trabalhadora das
empresas sob intervenção.
Por derradeiro, Sr. Presidente, eu quero que
o Ver. Décio Schauren também grite que é mentira. A Diretora do DEMHAB Dona
Lires Marques encaminhou ao gabinete deste Vereador, dentro da lei, dos
critérios que regem esta Casa, o Procurador do Departamento Municipal de
Habitação, 25 anos de atividade na Prefeitura Municipal, concursado, Dr. Marino
Cunha da Rosa. Este cidadão veio para o gabinete do Ver. Dilamar Machado,
dentro da lei, que nos autoriza a solicitar a cedência de três funcionários do
Município. No dia 17 deste mês, a Dona Lires Marques deu o seguinte despacho no
Processo: “Providenciar a retirada do Regime de Dedicação Exclusiva e de
Representação do Sr. Marino Cunha da Rosa e posterior levantamento dos demais
funcionários na mesma situação. Consultar o jurídico se devem retornar os
valores indevidos até o momento. Em 10 de julho de 1989.”
Já o Dr. Marino recebeu neste mês os seus
vencimentos com 70% a menos do que lhe era devido por lei. Ingressou, hoje, com
um Mandato de Segurança pedindo liminar para readquirir os seus direitos. O que
é isso? Isto é perseguição política, pura perseguição política, rasteira
mesquinha. Um Procurador do Departamento de Habitação, só pelo fato de estar à
disposição do gabinete deste Vereador, dentro da lei, porque eu não me curvo às
mentiras, às violências, às arbitrariedades que a Administração pratica contra
a classe trabalhadora, por esta razão, como não pode atingir a mim, que poderia
se tivesse documento – eu fui Diretor do DEMHAB, que me atinja, que traga para
esta Casa e para a imprensa qualquer coisa contra mim –, atinge os modestos
trabalhadores que estão à disposição do meu gabinete. Este é um ato ilegal,
imoral, é anti-político e desonesto, mexer nos vencimentos do funcionário
público porque está à disposição do Vereador do PDT. Efetivamente, eu não
esperava isto do Partido dos Trabalhadores. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo inscrito Ver. José
Valdir, que cedeu o seu tempo ao Ver. Flávio Koutzii.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, nós queríamos responder alguns dos questionamentos feitos por
diferentes lideranças nesta Casa. A primeira delas, a do Ver. Clóvis Brum, que
aponta corretamente o fato de que este aumento no próximo domingo superará pela
primeira vez o nível da inflação. Eu não desconheço este fato e evidentemente estamos
obrigados hoje a avaliar o que fizemos neste terreno, a corrida contra a
inflação e o aumento inevitável das tarifas. Qual foi a lógica sustentada pela
Administração até o próximo aumento? Foi tentar manter – e as cifras indicam
isto – uma margem de 20%, ou 30% às vezes, abaixo da inflação. Muitas
intervenções foram feitas aqui e algumas, eu reputo, de muita coragem política
e coerência, opostas às vezes, a certo tipo de intervenções demagógica e de
oportunidade. Recordo, por exemplo, as intervenções do Ver. Elói Guimarães que
sempre sustentou que deveria haver uma preocupação de manter este equilíbrio,
senão gradualmente teríamos problemas. As intervenções do Ver. João Dib foram
sistematicamente no mesmo sentido. A experiência tem nos mostrado que frente,
acho que é um dado determinante, ao desembestamento da inflação, 25% agora 30%,
e a incidência destes aumentos de uma forma cada vez mais veloz, evidentemente,
colocou para a Administração uma necessidade de reajuste cada vez mais
freqüente. A tentativa de manter os níveis um pouco abaixo da inflação, o que
era uma mudança a indicadores prévios à nossa intervenção e, sobretudo, à nossa
chegada à Prefeitura, se transformou pouco a pouco num elemento de asfixia, na
medida em que não somente se tratava, se trata e se tratará até o fim deste
governo, de encontrar os melhores caminhos para qualificar o transporte. Quanto
ao fato mil vezes discutido nesta Câmara e neste Plenário, de que a intervenção
gerou uma dinâmica muito complexa e contraditória de intenções, de conflitos,
de sabotagens, de desgaste, de momentânea desqualificação da qualidade do
transporte, etc., levou a uma posição que nos obriga hoje a mudar – e é muito
fácil fazer a conta, e tenho certeza que o Ver. Clóvis Brum, que é um expert
em contas, já terá feito. Vamos fazer o seguinte: quanto dá isto? Vinte por
cento a mais. Todo mundo sabe que hoje há um índice de 1% de inflação ao dia,
no mínimo. Isso significa que esse avanço de 20% está comigo daqui a 20 dias,
que em 20 de agosto isto empata, em 30 de agosto esta tarifa começa a ficar
abaixo da inflação. Se trata de um mecanismo perverso e sob o qual nós estamos
sendo obrigados a reagir para enfrentar o problema, que também é apontado
permanentemente como uma de nossas obrigações, inclusive pela oposição, que é a
manutenção da qualidade da frota e o início de sua renovação.
Nós reconhecemos o problema nestes termos e seria desonesto e incorreto
não dar o nome às coisas. Acho que é absolutamente claro que nós fizemos uma
tentativa, criticada às vezes, acompanhados em outras posições, essa foi a
dinâmica que nós implementamos. E, ao contrário do que disse o Ver. Dib, não é
verdade que nós não recolhemos frutos. Nós estamos em franco processo, mas
muito mais adiantados, infinitamente mais adiantados que meses atrás, de um
aprendizado que nos permite enfrentar esse problema com uma intimidade, com um
domínio da realidade das empresas muito menos abstrato do que há sete meses e,
portanto, com frutos muito concretos. Evidentemente, eles não são de cunho
eleitoral imediato; não são de obtenção de simpatias imediatas – lamentamos
isso, mas não temos nenhuma dúvida de que a nossa decisão foi uma decisão
oportuna e necessária, e essa grande revirada por dentro que nós demos no
sistema do transporte é hoje uma arma para os trabalhadores desta Cidade terem
um acompanhamento muito mais qualificado desse problema.
A segunda questão que eu queria observar nesse terreno – e apenas
recordar ao Ver. Clóvis Brum, estivemos juntos lá, o Ver. Dilamar –, que na
verdade nenhum funcionário passou de Cz$ 90,00 para um milhão. V. Exª sabe, é
que esqueceu algumas etapas intermediárias. Várias coisas aconteceram. Houve um
dissídio da categoria, um aumento da categoria, o aumento da categoria e do
salário previsto naturalmente para todos e também a modificação da situação de
responsabilidade dentro da empresa. Portanto, não foi só a promoção, mas que no
curso disso o salário de Cz$ 90,00 de janeiro se deram aumentos e se chegou a
duas coisas: aumentos e mudança de função e responsabilidade.
Quanto à questão – eu gostaria de conceder um aparte ao Ver. Décio
Schauren para que ele coloque algumas respostas ao Ver. Dilamar Machado.
O Sr. Décio Schauren: Eu pretendo responder outro
dia de forma mais completa, porém gostaria de dizer que ouvi atentamente o Ver.
Dilamar Machado e ontem, quando li uma matéria no Jornal do Comércio, eu fui
confirmar o que, efetivamente, aconteceu nessa tal de “brutal demolição”: o
Ver. Dilamar Machado vendeu terrenos que ficavam no traçado das ruas e quero
dizer mais: segundo os vizinhos teria sido um cabo eleitoral do Ver. Dilamar
Machado, talvez por isso ele tenha sido tão violento na sua denúncia. Mas o que
aconteceu é que foram vendidos terrenos no traçado das ruas e a SMOV embargou a
obra, e disse que esses dois moradores tirassem suas casas, pois estavam
prejudicando toda a comunidade, uma vez que ficavam no traçado da rua. Foi dado
um prazo para retirarem as casas e um dos moradores retirou a casa, sabendo que
estava em lugar errado, porém o outro não retirou. Lá não morava ninguém,
inclusive esta pessoa viria do interior para morar ali e foi comunicado, pela
segunda vez, porque o DEMHAB demoliria a casa se não fosse retirada. Como a
casa não foi retirada, o DEMHAB foi lá e demoliu a casa, mas não houve qualquer
tipo de violência, porque sequer morava alguém dentro daquela casa. Esse é o
fato.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Quero agradecer o
esclarecimento do Ver. Décio Schauren e dizer que temos pelos menos duas
versões sobre o acontecimento. O centro da argumentação do Ver. Décio Schauren
é que essa casa estava num lugar que não poderia estar, porque ali passa uma
rua, o centro da argumentação do Ver. Décio foi prevenir.
O Sr. Dilamar Machado: É a única casa, em Porto
Alegre, que está em locar errado.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Como é comum, Ver. Dilamar
Machado, há pelo menos duas versões bem claras e diferentes sobre o acontecido.
Nós poderemos seguir apurando isso, e o Ver. Décio Schauren comprometeu-se de
agregar novos esclarecimentos.
Era o que me cabia informar. Obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Por deliberação da Liderança
do PDT, o Ver. Nelson Castan ocupará a tribuna, por cessão de tempo do Ver.
Wilton Araújo.
O SR. NELSON CASTAN: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, um assunto que foi falado por colegas que me antecederam, Ver.
Flávio Koutzii e Ver. Luiz Braz, a respeito de publicações que foram levadas às
Lideranças desta Casa, referindo-se à questão do anti-semitismo, neonazismo,
gostaria de deixar a minha mensagem e, em especial, gostaria que o Ver. Braz
ouvisse as ponderações que tenho a fazer desta tribuna, uma vez que o pior
inimigo da democracia, da convivência fraterna é a desinformação. Gostaria de
fazer uma referência, ao Ver. Braz, no sentido de que esse assunto, conforme é do
conhecimento de todos, é extremamente polêmico, extremamente sensível e,
exatamente por isso, temos que ter a habilidade, a competência de separar as
coisas e sermos críticos com consciência, com pleno conhecimento daquele para
quem se dirige nossa crítica. Quando se faz essa mistura de povo judaico com
Israel, com banqueiros internacionais, com conquistadores do mundo, ou seja lá
o que for, é importante, sempre, sabermos qual o alvo dos nossos comentários,
das nossas críticas porque, do contrário, estaremos colocando todas as
situações num mesmo saco e contribuindo dessa forma para que se revivam e para
que se perdoem, e para que se apaguem da memória injustiças, agressões e crimes
profundos cometidos contra o povo judeu na Europa, na 2ª Guerra Mundial, em
nome outras coisas que muitas vezes não estamos conscientes, plenamente
sabedores daquilo que estamos falando. Quando se critica e quando se faz um
alerta para esse ressurgimento do neonazismo através dessas publicações, o que
se busca é separar devidamente as coisas, se as críticas são dirigidas ao
Governo de Israel é uma coisa, acho que aí entramos num terreno extremamente
polêmico – e não estou aqui defendendo o Governo de Israel -, agora, quando se
quer usar outras situações, protestos para atingir um povo que tem uma certa
religião, aí sim, estaremos repetindo o caminho daqueles que forneceram os
instrumentos ideológicos para o massacre de seis milhões de vidas na 2ª Guerra
Mundial. Temos que ter muito esse cuidado, Vereador, porque isso aí é uma areia
movediça, é um lodaçal e é extremamente importante a acuidade da análise para
que não se faça o justo pagar pelo pecador. Só queria registrar ao Ver. Braz,
que como uma resposta a essa bibliografia neonazista, que, por sinal, o autor
usa indevidamente o nome da minha família, na verdade, na sua certidão de
nascimento se chama Siegfrid Elwanger, esse é o nome dele. Então, aí, já é a
primeira situação que se coloca: por que uma pessoa que vem tratar de um
assunto de tamanha importância não assume sua verdadeira identidade? Por que
precisa recorrer a um pseudônimo? Por que ele não põe seu verdadeiro nome, diz
quem ele é, da onde ele vem? E qual é a sua formação, qual é a sua origem? Por
que ele está escrevendo essas obras? Então, queria só fazer uma referência ao
Ver. Braz, esse livro aqui é de um historiador francês, ao qual ele dedica à
mãe dele, a sua mãe, ele diz o seguinte: “À memória de minha mãe Marguerite
Valabrégue, Marcelha 20 de maio de 1907, Auchewitz”. E uma interrogação. A mãe
do autor é uma das milhares de vítimas que faleceu nos campos de extermínio do
Holocausto.
Vou ler um trecho, uma passagem de uma das maiores lideranças do
nazismo alemão, Himler, diz ele: “...fizeram-nos a seguinte pergunta: o que
fazer com as mulheres e crianças? Tomei uma decisão encontrei a solução óbvia,
não me sentia no direito de exterminar os homens, digam se quiserem, matá-los
ou mandar matá-los. E deixar as crianças crescerem? Pois se vingariam em nossas
crianças e em nossos descendentes. Tive que tomar a séria decisão de fazer com
que esse povo desaparecesse da terra”.
Isto é uma transcrição literal de uma das maiores lideranças do
nazismo. E são milhares de exemplos, são milhares de situações, são vítimas
vivas, que conseguiram escapar e que hoje trazem em seus braços, tatuados, os
seus números de cadastros dos campos de concentração.
Então, quando um autor, como esse Sr. Siegfrid Elwanger se propõe a
revisar a história, ele não está fazendo somente isto, porque atrás dessa
intenção, ele também publica obras apócrifas, clássicas, que não são de hoje,
são de cem anos atrás, como o “Protocolo dos Sábios de Sião”, que são obras
mundialmente aceitas, reconhecidas como de caráter nitidamente anti-semita.
Então, este cidadão, por trás de uma pretensa pesquisa histórica, está
fazendo inequívoca propaganda anti-semita. O que não colabora com um País como
o nosso, que é formado e vicejou pela convivência fraterna dos imigrantes e
minorias.
Dito isto, o Ver. Vieira da Cunha me cedeu, gentilmente, o seu tempo, e
ele tem uma observação a fazer.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Evidentemente, Ver. Nelson Castan, quero me
solidarizar, em nome da Bancada, com V. Exª e com o Ver. Isaac Ainhorn, pelos
respectivos pronunciamentos que fizeram a respeito da matéria. Mas eu não
poderia deixar que o tempo de V. Exª terminasse sem também manifestar a posição
desse Vereador a respeito do que disse há pouco dessa tribuna o Ver. Flávio
Koutzii acerca do aumento das tarifas dos transporte coletivo. Até porque este
Vereador, a cada aumento de tarifa, tem se manifestado publicamente através de
folhetos, e é lastimável dizer que eu não vou conseguir, as minhas
possibilidades financeiras não vão ser suficientes para correr atrás de cada
aumento da Administração Popular. Os últimos panfletos que foram dez mil,
tamanho meio ofício, custaram 230 cruzados novos, e eu não vou ter condições de
fazer panfleto porque a Administração Popular não deixa correr nem um mês para
dar aumento de tarifa. Veja que o último aumento foi dia 17 de julho, para 35
centavos, e agora vai entrar em vigor dia 06 de agosto, são vinte dias somente
Ver. Castan, entre o último aumento e este agora anunciado. E o que é pior
28,5%, infelizmente eu não vou poder fazer, como gostaria, mais uma denúncia à
população porque na última vez o jornal chegou a dizer que o Olívio tinha
rebaixado a tarifa de 36 para 35 centavos, tamanha desinformação. E esta
história do Ver. Koutzii dizer que a população está ganhando, está tendo uma
redução real de tarifa, ora vamos e venhamos, eu tenho aqui a tabela, o
primeiro aumento do PT foi em pleno congelamento, estavam congelados os preços
e as tarifas públicas, e o PT subiu de 12 para 17 centavos. Depois, em 11 de
junho, subiu para 27 centavos; quando a inflação era 120,8% o PT já reajustava
a tarifa em 125%. Depois quando subiu em 35 centavos, eram 35 dias e a tarifa
já dobrava, a inflação era de 175,5% e a tarifa ia a 191,6% - eu já finalizo
Sr. Presidente. Já que foram trazidos os números – eu quero contestar com
números – e agora com este aumento de 45 centavos a inflação atinge a 254,8% e
a fúria tarifária do PT atinge 275%. Como se tudo isso não bastasse, eu
finalizo com um argumento que me parece definitivo: em fevereiro, um
trabalhador recebia 63 cruzados novos e 90 centavos, a tarifa era 12 centavos.
Portanto, com um piso de salário, ele adquiria 532 passagens e meia. Agora, em
agosto, o piso passa a 192 cruzados e 88 centavos; com este piso, o trabalhador
vai adquirir somente 428,6 passagens. Cento e quatro passagens a menos. E vem o
Ver. Flávio Koutzii falar em redução real de tarifa!
O SR. NELSON CASTAN: Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Valdir
Fraga): Com a palavra, o Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
especialmente o Ver. Flávio Koutzii, Ver. Castan, Ver. Isaac Ainhorn,
Vereadores que integram a colônia judaica, eu devo dizer que eu nasci no final
do ano de 1946. Nos bancos escolares eu aprendi sobre a Guerra do Paraguai e
aprendi a exaltar os heróis brasileiros na Guerra do Paraguai. De repente, veio
uma revisão na história e eu reaprendi que nós, brasileiros, lutamos
erroneamente na Guerra do Paraguai. E, de repente, eu começo a revisar os fatos
históricos do Brasil e vejo que os grandes heróis nacionais não foram, muitas
vezes, os grandes heróis nacionais. E, agora, querem me dizer que eu não posso
ler determinados livros a respeito de história mundial. Mas por que? Eu tenho
obrigação de defender o povo brasileiro. Eu sou brasileiro. Eu tenho esta
obrigação, o meu povo está esmagado, o meu povo está faminto, está passando
fome, e eu vejo os oradores subirem a esta tribuna e defenderem só o povo
judaico. Eu quero dizer que eu não sou contra nenhum tipo de povo, mas sou a
favor do meu povo. Eu quero dizer que eu sou favorável à liberdade de
expressão, sou radialista e sou jornalista desde 13 anos de idade. Sou
favorável à liberdade de expressão. E devo dizer que quando abro um dos livros,
por exemplo destes que estão sendo contestados, eu vejo uma história sobre
aquele atleta negro Jessie Owens, que diziam que havia feito o Hitler tremer de
raiva, “babar de raiva” era a expressão utilizada. Quando aquele atleta voltou
para os Estados Unidos, ele mesmo declara, no livro, que ele ainda tinha que ficar
na parte de trás dos ônibus, porque os negros só podiam entrar na parte de trás
do ônibus. Isto depois da vitória dele, com quatro medalhas de ouro, em 1936.
E, nas repartições públicas, ele só podia entrar na parte dos fundos, porque só
era recebido na parte dos fundos, como todos os negros dos Estado Unidos. E
isto não era racismo? É claro que era racismo. E eu sou contra o racismo. E
vejo, por exemplo, os negros serem espezinhados, maltratados, eles estão aí
morrendo de fome, estão famintos. E eu não vejo ninguém estender as mãos para
eles. Mas vejo chamarem os negros, quando, de repente, a colônia judaica se
sente atacada. Eu não sou contra a colônia judaica, eu sou amigo dos judeus
aqui desta Casa, do Ver. Isaac Ainhorn, do Ver. Flávio Koutzii, mas quero que
os Vereadores desta Casa venham aqui defender o nosso povo.
Eu sou favorável ao povo brasileiro, eu sou brasileiro, muito embora
tenha ascendentes nascidos na Síria, ascendentes nascidos na África,
ascendentes índios. Mas eu sou brasileiro. Para mim não interessa o que está
acontecendo nesta ou naquela nação. A mim interessa o que está acontecendo ao
meu redor. Eu não vejo os Vereadores virem aqui defender, por exemplo, os
ataques que o meu povo sofre. Dizem, por exemplo, que a raça brasileira é preguiçosa,
é indolente. Quantas vezes falam isto contra a nossa raça! E não vejo um só
orador vir a esta tribuna, para dizer aqui que isto é mentira, que nós somos
assim porque somos explorados, porque somos colonizados, que nós somos assim
porque eles exploram o nosso povo para que haja países ricos e países pobres. É
por isto que eu defendo o direito deste povo de ler tudo aquilo que for
escrito, para poder avaliar. O Ver. Flávio Koutzii veio a esta tribuna e,
quando ouvi o aparte do Ver. Décio Schauren, quando instado pelo Ver. Dilamar
Machado, disse: “agora, já tenho as duas verdades, as duas versões”, falando
sobre transporte coletivo. Ele disse; “as duas versões”. Por que nós não
podemos ler qualquer tipo de literatura? Podemos ler. Devemos ler. Pensa que eu
acreditei em todas as histórias que eu li, por exemplo, nos livros? Nestes
livros desta coleção, agora, Vereador? Claro que não. Mas é claro que eu fico
apreensivo e preso a uma matéria quando coloca a dificuldade que tem para matar
uma só pessoa na câmara de gás e das técnicas utilizadas, e como têm que ser
utilizadas. Da dificuldade para se matar milhares de pessoas.
Eu começo a ler isto e começo a ficar preso àquela matéria. Mas não
porque eu esteja, digamos assim, fazendo apologia destes livros, ou dizendo que
isto que eles estão dizendo agora é verdade, e aquilo que os historiadores
passados contaram é mentira. Mas é apenas, Ver. Isaac Ainhorn, o fato de nós
podermos ter liberdade de expressão. Se nós, por exemplo, negarmos a liberdade
de expressão para um setor, como é que nós podemos defender para os outros? De
forma alguma, não podemos.
Ver. Isaac Ainhorn.
O Sr. Isaac Ainhorn: Nobre Ver. Luiz Braz, eu
quero dizer a V. Exª que sempre – e esta é a minha história – tem sido uma
defesa intransigente minha em relação à liberdade de pensamento e à liberdade
de expressão. Mas, infelizmente, em relação a toda uma literatura que nega os
fatos históricos que aconteceram há pouco mais de 40 anos, especialmente quando
uma literatura tenta, exatamente, denegrir uma comunidade étnica, quando uma
literatura pretende a inversão total de fatos históricos, evidentemente que,
como cidadão brasileiro, e que teve antepassados seus que morreram na câmara de
gás, eu, evidentemente, me envolvo, sentimentalmente, Ver. Luiz Braz, porque é
abjeto, é deprimente que um cidadão como este escreva uma obra desta natureza,
negando um fato cujos sobreviventes dos campos de concentração ainda estão
vivos. Quando todos os tribunais internacionais, quando o depoimento daqueles
que chegaram aos campos de concentração das tropas aliadas norte-americanas,
soviéticas, britânicas, brasileiras, se encontraram com estes fatos
deprimentes.
E outra coisa, Vereador, eu sou um lutador intransigente pela
democracia plena neste País, e ao lado dos negros estou sempre porque eles têm
sido as grandes vítimas de uma cruel discriminação racial que infelizmente
ainda grassa em nosso País, não só apenas com relação à comunidade judaica, mas
toda e qualquer discriminação.
O SR. LUIZ BRAZ: Ver. Isaac Ainhorn, eu
jamais disse que era favorável a qualquer tipo de discriminação, e jamais seria
favorável a discriminar alguém, agora, eu não sou cego nem surdo, o meu povo é
discriminado, não sou cego nem surdo, o meu povo é esmagado, não sou cego nem
surdo, aqueles que dominam a economia mundial fazem, desta Nação, o que ela é,
e sou brasileiro, eu gosto do Brasil, quero defender as coisas do meu povo. Eu
gosto muito, por exemplo, do Ver. João Dib, e outro dia fiz, não foi bem uma
crítica, mas apontei para ele, certo dia, quando ele veio dizer da sua
sabedoria em relação aos números, e realmente ele tem, quando ele dizia desta
tribuna, “eu sou árabe”, e eu dizia, não Vereador, acho um erro isso, nós somos
brasileiros, e é isso que temos que defender, não quero que venham aqui
defender italianos, alemães, muito embora, todos vivam aqui, mas quero defender
a pobreza desta terra, o povo que é miserável, explorado, espoliado. Concedo um
aparte ao Ver. Ainhorn e José Valdir.
O Sr. Isaac Ainhorn: Sabe, V, Exª., contra quem,
hoje, as forças neonazistas se articulam na Europa? Contra portugueses que
buscam empregos.
O SR. LUIZ BRAZ: Mas não estou fazendo
apologia do neonazismo, eu estou apenas dizendo da liberdade de expressão,
apenas do meu povo, do povo brasileiro.
O Sr. José Valdir: Vereador, não consigo
entender qual é a contradição entre defender o povo brasileiro, defender a
liberdade de expressão e ser contra o anti-semitismo?
O SR. LUIZ BRAZ: Parece que V. Exª ficou
surdo, não sou anti-semita, sou amigo deles, não só nesta Casa, temos vários
amigos, e não estou dizendo que aquilo que escreveu o Elwanger Castan é
realidade, não estou dizendo isto, mas estou dizendo apenas que ele tem o
direito de escrever. Agora, se ele contou alguma mentira em seus livros, acho que
ele deve ser acionado judicialmente, temos mecanismos para isto. Agora, ele tem
o direito de escrever, Vereador. É este direito que eu não quero negar nem a
ele e nem a ninguém. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Inscrito
em tempo de Comunicações o Ver. Omar Ferri que cede o seu tempo ao Ver. Flávio
Koutzii, conforme documento entregue à Mesa e assinado pelo mesmo.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu percebo que a paciência de todos está no limite, apesar de ser o
primeiro dia do segundo semestre de trabalho, acho que é um pouco cedo para
ficarmos cansados.
Eu só faço este abuso de ocupar uma vez mais a tribuna até mesmo porque
tenho certeza de que o Ver. Luiz Braz é, em primeiro lugar, um democrata e em
segundo lugar, certamente, não é racista. Isto para mim, para começo de
conversa, mas quero confessar que escutar a sua intervenção, inclusive esta
última, é uma coisa que chega a me perturbar, no sentido de que até me tira a
iniciativa de reagir sob a forma de aparte, etc., porque, sobretudo, para mim,
é uma espécie de decepção, é uma espécie de melancolia. Ouvi coisas durante
este debate, pequenos deboches...
O Sr. Luiz Braz: Não fui eu.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Não, não foi V. Exª, estou
me referindo a outras intervenções, ironias, eu vi alguém dizer quando comecei
meu pronunciamento que o Ver. Koutzii agora vai querer dar uma aula de história
aqui. Ouvi outro Vereador dizer...o Ver. Jaques Machado. Outro Vereador dizer
que falemos dos transportes, não vamos falar deste assunto porque, afinal, pode
estar querendo ocultar. Eu não escolhi, está absolutamente claro que houve um
fato que desencadeou isso hoje, inesperado, que os líderes da Casa receberam –
não individualmente pelo seu nome, mas pela sua condição de líder, todos - um
envelope. Pelo menos foi testemunhado no caso da Liderança do PDT e da
Liderança do PT. Não sei se foram as únicas que mereceram essa distinção. Quero
apenas registrar o seguinte. Não é possível que mesmo que o centro da nossa
atividade, como Vereadores, é a nossa Cidade, é o nosso povo – ter que ouvir e
aí ao meu ouvido é finíssimo. Vou fazer como faz o Ver. Dib que sabe fazer
contas bem, eu sei ouvir muito bem esses assuntos. Quando menino judeu, eu era
perseguido porque nos idos de 1950, nas boas escolas católicas do ramo havia
uma certa simplificação que se tratava do povo que assassinou Cristo e que todo
o judeu era um perigoso e maldoso homem. Os tempos são diferentes, acho que a
cultura que a Igreja transmite hoje é diferente, mas eu vivi essas pequenas
perseguições que, sim, me marcaram muito a personalidade. Acho até que ajudaram
a construir uma inclinação de solidariedade. Duas vezes se falou neste assunto
nesta Casa, e isso me chama muito a atenção no discurso do Ver. Luiz Braz. Tive
um pequeno bate-boca com o Ver. Clóvis Brum, quando ele usou essa expressão de
uma forma debochada, que eu acho que está carregada de preconceito, já
esclarecemos esse assunto, e a única vez que voltamos a esse assunto foi no dia
da homenagem do 41º aniversário do Estado de Israel. Não me lembro de haver
falado neste assunto, nem eu, nem ninguém mais aqui. É extremamente sugestivo
que no momento em que, por um fato em que eu não provoquei, nós retomemos aqui
a questão, parece, veja bem, como pode se ouvir o que V. Exª - o Ver. Luiz Braz - disse. Primeiro, pode
parecer que V. Exª é mais brasileiro do que eu, o que seria um equívoco
profundo, profundíssimo, porque somos todos brasileiros de diferentes origens,
de diferentes imigrações. Mas é curioso porque mesmo que V. Exª não seja um
racista consciente, talvez o seja inconscientemente porque produziu – está
registrado aqui - esta noção de diferença, porque vem aqui bradar, inclusive
com veemência e com certa emoção que V. Exª é brasileiro, e que lhe parece
sugestivo que não se trata aqui das questões do Brasil. Mas isso é
absolutamente falso. Só o que se fala aqui é do Brasil, da nossa gente e dos
nossos dramas, cada um da forma como interpreta, como acha oportuno intervir.
Então, chamo a atenção, e por isso abusei do auto-elogio dizendo: nisso eu
tenho um ouvido muito fino. Há uma frase sua que é repetição de uma espécie de
coisa que se diz muito quando se trata do assunto do racismo: eu tenho muitos
amigos negros, vejam como eu sou bom e tolerante porque eu, branco, tenho até
amigos negros ou amigos judeus, até conheço alguns que são bons. É uma frase
clássica do racista enrustido. (Palmas.)
O SR. LUIZ BRAZ: Só para colocar as coisas
no lugar, jamais disse que tenho alguns amigos bons, negros ou alguns amigos
bons, judeus. Eu não disse isso em momento nenhum. Eu disse que tenho amigos...
O SR. PRESIDENTE: Ver. Luiz Braz, a Mesa
entende que isso é um esclarecimento, não uma Questão de Ordem.
O SR. LUIZ BRAZ: É uma Questão de Ordem
porque o orador que está na tribuna disse que eu falei algo e que está nos
Anais, eu digo que não. Isso é uma Questão de Ordem, sim, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Não é uma Questão de Ordem,
é um esclarecimento do seu entendimento sobre o que diz o Vereador que está na
tribuna.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Volto à frase inicial: para
mim o Ver. Luiz Braz é democrata e não é racista. Tenho a pretensão de que sou
capaz de analisar o discurso de uma pessoa e desentranhar alguns significados
que talvez não sejam aqueles que a pessoa quer expressar. Tem razão o Sr.
Presidente por isso, porque essa é a minha interpretação do seu discurso.
Então, digo que, inconscientemente, se aproxima de um tipo de linguajar e de
distinção que acho que representa algo de preocupante. O que eu queria dizer é
que não há nenhum problema de que esta Casa lateralize os debates com temas que
não sejam, fundamentalmente, sobre a Cidade. Mas também acho que faz parte, e
não vou me pautar – e acho que a Bancada do Partido dos Trabalhadores, a quem
não consultei, mas de quem conheço o perfil político-ideológico, também não se
vai pautar – por essa espécie de inoportuna chantagem, quem sabe, mais uma vez
produzida involuntariamente pela veemência de V. Exª, de vir nos acossar com a
idéia de que nos preocupamos mais com o povo judeu do que com o povo
brasileiro. Isso é absolutamente falso, do ponto de vista do cotidiano do qual
somos testemunhas.
Agora quero produzir também a diferença que existe entre nós: eu sou um
internacionalista, não só do Sport Club Internacional, mas quanto às questões
que concernem à condição humana e o destino da humanidade me importam. E
aprendi o suficiente nos livros de história para saber que todas as questões se
relacionam, que o destino dos povos da América Latina vai incidir no nosso e o
nosso no deles e que nada que é humano é estranho a nós e não nos importa.
Então, o nacionalismo, outra percepção que eu tive do seu inquietante discurso,
principalmente porque ele não é mal- intencionado – eu tenho certeza que não é
–, esse nacionalismo chauvinista que usa, para cegar determinados pontos da
realidade, essa declaração da qual todos são partícipes nesta Casa serem não só
profundamente brasileiros, mas amantes, preocupados e marcados, dilacerados
pelo jeito como anda e vive o povo de nosso País, no seu destino, neste
momento, que é um dos mais difíceis. Então, não há qualquer confusão, a
preocupação, o intervir nas questões nacionais que são aquelas nas quais
estamos mais preparados, habilitados e bem situados, não esquiva o fato de que os
problemas do mundo são os nossos problemas.
O Sr. Nelson Castan: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu fico extremamente gratificado com o seu
pronunciamento, com a clareza com que V. Exª, digamos assim, esmiuçou o
verdadeiro significado na sua interpretação, que também é a minha, do discurso
do Ver. Luiz Braz.
Eu acho, como V.Exª, que o Ver. Luiz Braz não tem esta intenção, é uma
coisa inconsciente, como tantas outras. Agora, eu quero deixar claro que assim
como o Ver. Flávio Koutzii, eu sou judeu-brasileiro, nascido aqui no Brasil,
brasileiro de convicção, de natureza cultural e que acho que todos os
Vereadores desta Casa são brasileiros, mas nem todos são demagogos.
O Sr. Luiz Braz: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Ver. Flávio Koutzii, em momento algum eu ataquei o povo judeu, em
momento algum eu fiz os discursos racistas. As ilações foram tiradas por V. Exª
e, também, pelo aparte que deu agora o Ver. Nelson Castan, mas disso V. Exª não
pode me acusar, procurei ser o mais claro possível. Mas é claro que, de
qualquer frase, pode-se tirar várias ilações, Vereador, e V. Exª é muito
inteligente para isso...
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Para terminar, não somente
às vezes sou inteligente, como sobretudo honesto, honesto mesmo, e não uso
expedientes demagógicos para distorcer argumentos. O que fiz, e assumo que pode
ser inclusive, quem sabe, um pouco pretensioso – para terminar, Sr. Presidente
– foi uma leitura e uma busca de sentido no seu discurso. Termino dizendo que o
Ver. Luiz Braz é democrata, não é racista, mas expressou claramente no seu
discurso – e por isso que ocupei a tribuna – uma série de noções e de
interpretações que compõem o universo de um pensamento que pode desembocar num
sentido racista. Obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 16h09min.)
* * * * *